Hoje vamos falar sobre depressão. Depressão é um termo que passou a fazer parte do nosso vocabulário do dia-a-dia. Vira e mexe soltamos um “nossa, estou tão depressivo hoje!” querendo dizer que estamos tristes e sem vontade de fazer nada, ou “ele é muito depressivo” falando de pessoas mais melancólicas e sem vontade de fazer o que todos fazem. E depois de comer muito? "Nossa, comi tanto que to até deprimido"
O fato é que acabamos por chamar qualquer comportamento que não seja positivo ou cheio de energia como "depressão". Mas, sabe o que é mais curioso? Muitas pessoas com depressão não se veem como deprimidas. Elas se sentem, na verdade, sem vontade de tentar novamente. Nada tem graça! Então, para quê fazer? Estes sentimentos de falta de interesse ou motivação para realisar atividades diárias é chamado de Apatia. E a incapacidade de sentir prazer em atividades que antes eram agradáveis é chamado de Anedonia.
Então quando estamos deprimidos nada parece interessante, então por que fazer qualquer coisa? Por que levantar da cama, se arrumar, pegar um transporte e ir trabalhar? E para quê trabalhar? A falta de sentido e propósito no futuro esmaga qualquer motivação para agir no presente. A desesperança domina e a sensação de incapacidade toma conta.
A depressão é muito mais do que sentir-se triste ou para baixo de vez em quando; é uma condição médica séria que afeta como você se sente, pensa e lida com as atividades do dia a dia.
O que é depressão?
A depressão é como uma sombra persistente que nos envolve, trazendo sentimentos de tristeza profunda, irritabilidade constante e uma sensação de vazio emocional, juntamente com outros sintomas que afetam a capacidade da pessoa de funcionar normalmente. Essa condição afeta nossa capacidade de desfrutar das coisas que antes nos traziam alegria e pode dificultar, e até mesmo impedir completamente, nosso funcionamento diário.
Imagine a depressão como uma névoa densa que obscurece nossa visão, tornando difícil enxergar a luz no fim do túnel. É como se estivéssemos em um labirinto emocional, tentando encontrar o caminho de volta para a clareza mental e emocional. A sensação é como se existisse uma gaiola invisível que aprisionasse a vontade junto com pensamentos negativos, mesmo que por fora a pessoa esteja fazendo algo.
De acordo com o CID - 11 (Classificação Internacional de Doenças - 11ª Revisão) a depressão é uma condição marcada por tristeza persistente, perda de interesse e prazer, e sentimentos de culpa ou baixa autoestima, acompanhados de distúrbios do sono ou do apetite, baixa energia e concentração, além de pensamentos de morte ou suicídio. Ou seja, depressão não é frescura!
Em resumo e de maneira simples, depressão é uma condição em que a pessoa sente uma tristeza profunda manchada pela culpa de como foi seu passado, uma falta de energia e prazer no presente, e uma visão pessimista e sem esperança para o futuro.
Depressão: Sintomas
A depressão pode se manifestar de várias maneiras, incluindo sentimentos persistentes de tristeza, perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, mudanças no apetite e no sono, fadiga constante, dificuldade de concentração, sentimentos de culpa ou inutilidade, e até pensamentos suicidas.
Humor Deprimido: Sentimentos persistentes de tristeza, irritabilidade ou vazio.
Anedonia: Perda de interesse ou prazer em atividades que antes eram prazerosas.
Alterações no Apetite e Peso: Mudanças significativas no apetite, resultando em perda ou ganho de peso.
Distúrbios do Sono: Dificuldades para dormir (insônia) ou dormir em excesso (hipersonia).
Fadiga ou Perda de Energia: Sensação constante de cansaço e falta de energia.
Dificuldades de Concentração: Problemas para se concentrar, tomar decisões ou pensar claramente.
Sentimentos de Inutilidade ou Culpa Excessiva: Sensação de ser inútil ou culpa desproporcional por coisas que normalmente não seriam preocupantes.
Pensamentos de Morte ou Suicídio: Pensamentos recorrentes sobre morte, suicídio ou tentativas de suicídio.
Alterações Psicossomáticas: Sintomas físicos inexplicáveis, como dores e desconfortos que não possuem uma causa médica identificável.
Para ser diagnosticado com depressão, esses sintomas devem estar presentes na maior parte dos dias, quase todos os dias, por um período de pelo menos duas semanas. Além disso, os sintomas devem causar sofrimento significativo ou prejudicar o funcionamento social, ocupacional ou outras áreas importantes da vida da pessoa.
O que causa a depressão?
Não há uma única causa para a depressão. Fatores genéticos, bioquímicos, ambientais e psicológicos podem todos desempenhar um papel. Um desequilíbrio de neurotransmissores no cérebro, como a serotonina e a dopamina, está frequentemente associado à depressão.
Ou seja, a depressão é uma condição complexa que pode ser causada por uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Aqui estão algumas das principais causas identificadas:
1. Fatores Biológicos
Genética: A predisposição genética pode aumentar o risco de desenvolver depressão. Pessoas com histórico familiar de depressão têm maior probabilidade de sofrer da doença (NICE).
Neurotransmissores: Desequilíbrios em substâncias químicas no cérebro, como serotonina, dopamina e noradrenalina, estão associados à depressão (BioMed Central).
Hormônios: Alterações hormonais, como aquelas que ocorrem durante a gravidez, pós-parto, menopausa ou problemas na tireoide, podem desencadear a depressão (Geeky Medics).
Condições Médicas: Doenças crônicas e debilitantes, como doenças cardíacas, câncer e diabetes, podem aumentar o risco de depressão.
2. Fatores Psicológicos
Trauma e Abuso: Experiências traumáticas, abuso na infância ou situações de grande estresse emocional podem contribuir para o desenvolvimento de depressão (Find-A-Code).
Personalidade: Pessoas com certos traços de personalidade, como baixa autoestima, pessimismo ou alta autocrítica, são mais suscetíveis à depressão.
Eventos de Vida Estressantes: Perdas significativas, como a morte de um ente querido, divórcio ou perda de emprego, podem desencadear episódios depressivos.
3. Fatores Sociais
Isolamento Social: A falta de apoio social e o isolamento podem contribuir para a depressão (NICE).
Problemas Financeiros: Dificuldades econômicas e estresse relacionado a problemas financeiros são fatores de risco conhecidos.
Ambiente e Circunstâncias: Viver em um ambiente estressante ou enfrentando condições adversas, como violência ou discriminação, pode aumentar o risco de depressão.
4. Fatores Ambientais e de Estilo de Vida
Estilo de Vida: Fatores como falta de atividade física, dieta inadequada e privação de sono podem contribuir para a depressão (BioMed Central).
Uso de Substâncias: Abuso de álcool e drogas está fortemente ligado ao aumento do risco de depressão.
A depressão frequentemente resulta da interação de vários desses fatores. Por exemplo, uma pessoa com predisposição genética pode não desenvolver depressão a menos que experimente eventos de vida estressantes ou condições adversas ambientais (NICE) (Find-A-Code).
Quais os tipos de Depressão?
A depressão pode se manifestar de várias formas, cada uma com características e critérios diagnósticos específicos. Aqui estão os principais tipos de depressão, conforme descritos nos manuais de diagnóstico como o DSM-5 e o CID-11:
1. Depressão Maior (Transtorno Depressivo Maior)
Também conhecida como depressão unipolar, é caracterizada por episódios de humor deprimido ou perda de interesse e prazer em quase todas as atividades, acompanhados por outros sintomas, como mudanças no apetite e sono, fadiga, sentimentos de culpa ou inutilidade, dificuldades de concentração e pensamentos suicidas. Esses episódios duram pelo menos duas semanas.
2. Transtorno Depressivo Persistente (Distimia)
Este tipo de depressão é menos grave que a depressão maior, mas é crônica, durando por pelo menos dois anos. Os sintomas incluem humor deprimido, perda de interesse, alterações no apetite e sono, baixa energia, baixa autoestima e dificuldade de concentração.
3. Depressão Bipolar
Também chamada de transtorno bipolar, envolve episódios de depressão alternando com episódios de mania ou hipomania (humor elevado, expansivo ou irritável). Existem diferentes tipos de transtorno bipolar, incluindo bipolar I e bipolar II, que variam na intensidade dos episódios maníacos e depressivos.
4. Depressão Pós-Parto
A depressão pós-parto ocorre em mulheres após o parto, caracterizada por sentimentos intensos de tristeza, ansiedade e exaustão que podem interferir na capacidade de cuidar de si mesma e do bebê.
5. Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM)
É uma forma grave de síndrome pré-menstrual (TPM) que causa depressão severa, irritabilidade e tensão antes da menstruação. Os sintomas melhoram após o início do período menstrual.
6. Transtorno Depressivo Induzido por Substâncias/Medicamentos
Este tipo de depressão é causado pelo uso de substâncias ou medicamentos, que induzem sintomas depressivos significativos durante ou logo após o uso dessas substâncias.
7. Depressão Sazonal (Transtorno Afetivo Sazonal)
É uma forma de depressão que ocorre em certos períodos do ano, geralmente no inverno, quando há menos luz solar. Os sintomas incluem humor deprimido, perda de interesse em atividades, fadiga, ganho de peso e desejos por carboidratos.
8. Depressão Psicótica
É uma forma grave de depressão maior onde a pessoa também apresenta sintomas psicóticos, como delírios (crenças falsas) ou alucinações (ver ou ouvir coisas que não estão presentes).
9. Depressão Atípica
Caracteriza-se por um padrão específico de sintomas, como aumento do apetite ou ganho de peso, sono excessivo, sensação de peso nos braços ou pernas e uma sensibilidade extrema à rejeição interpessoal.
10. Depressão Situacional (Transtorno de Ajustamento com Humor Depressivo)
Resulta de uma reação emocional desproporcional a um evento estressante ou mudança de vida significativa, como divórcio, perda de emprego ou morte de um ente querido.
Depressão: Qual o melhor tratamento?
A boa notícia é que a depressão é tratável. Os tratamentos para a depressão variam conforme a gravidade e a resposta individual, mas há um consenso sobre as abordagens mais eficazes, que podem ser categorizadas em tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos e outros métodos complementares. Opções de tratamento incluem terapia cognitivo-comportamental (TCC), medicamentos antidepressivos e terapias complementares como mindfulness, exercício físico e uma alimentação saudável. Estudos mostram que uma abordagem integrativa, combinando várias dessas estratégias, pode ser a mais eficaz.
Vamos ver quais os principais?
1 - Psicoterapia
A Psicoterapia é fundamental para qualquer caso de depressão, principalmente os casos leves e moderados e os graves(associados com medicamentos). É por meio dela que você vai poder conhecer as possíveis causas, suas vulnerabilidades, seus potenciais, avaliar e programar ações a serem feitas, adquirir a motivação para se engajar em atitudes importantes, medir seus ganhos e readequar estratégias caso seja necessário e o mais importante: reconhecer ou construir um sentido para sua vida. Todas as psicoterapias são válidas por trazerem muitos dos componentes necessários para lhe ajudar. No entanto, existem algumas que apresentam estudos científicos mais robustos que evidenciam melhores resultados. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) para depressão é a principal.
2 - Medicamento
Vamos falar sobre os principais medicamentos para tratar a depressão e como eles atuam no cérebro. É bem simples!
ISRSs (Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina)
Esses são os antidepressivos mais comuns e são geralmente a primeira escolha dos médicos.
Exemplos: Fluoxetina (Prozac), Sertralina (Zoloft), Citalopram (Celexa), Escitalopram (Lexapro).
Como Funcionam: Eles aumentam os níveis de serotonina no cérebro. A serotonina é uma substância química que ajuda a regular o humor. Os ISRSs impedem que a serotonina seja reabsorvida muito rapidamente pelas células nervosas, mantendo mais serotonina disponível para ajudar a melhorar o humor.
IRSNs (Inibidores da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina)
Esses medicamentos ajudam a aumentar não apenas a serotonina, mas também a noradrenalina.
Exemplos: Venlafaxina (Effexor), Duloxetina (Cymbalta).
Como Funcionam: Eles bloqueiam a reabsorção de serotonina e noradrenalina, duas substâncias químicas que ajudam a regular o humor e a energia. Com mais dessas substâncias no cérebro, você pode se sentir mais enérgico e menos deprimido.
Antidepressivos Tricíclicos (ATCs)
Esses são mais antigos e não são usados como primeira opção devido aos efeitos colaterais.
Exemplos: Amitriptilina, Nortriptilina (Pamelor).
Como Funcionam: Eles aumentam os níveis de serotonina e noradrenalina no cérebro, mas também afetam outras substâncias químicas, o que pode causar mais efeitos colaterais.
IMAOs (Inibidores da Monoamina Oxidase)
Esses são usados quando outros medicamentos não funcionam.
Exemplos: Fenelzina (Nardil), Tranilcipromina (Parnate).
Como Funcionam: Eles impedem que uma enzima chamada monoamina oxidase decomponha serotonina, noradrenalina e dopamina. Isso aumenta os níveis dessas substâncias químicas no cérebro, ajudando a melhorar o humor.
Antidepressivos Atípicos
Esses medicamentos não se encaixam nas outras categorias e têm formas diferentes de agir.
Exemplos: Bupropiona (Wellbutrin), Mirtazapina (Remeron), Trazodona.
Como Funcionam:
Bupropiona: Aumenta os níveis de dopamina e noradrenalina.
Mirtazapina: Aumenta a liberação de serotonina e noradrenalina ao bloquear certos receptores.
Trazodona: Ajuda com o sono, além de aumentar a serotonina.
Depressão: Terapias Complementares
Terapias Mente-Corpo
Terapia mente-corpo é um conjunto de práticas e intervenções terapêuticas que enfatizam a interconexão entre a mente e o corpo para promover a saúde e o bem-estar.
Dentre as que têm comprovada eficácia no tratamento da depressão estão:
Mindfulness ou Atenção Plena
Tai Chi
Yoga
Terapia da luz ou fototerapia
A luz especial da terapia da luz simula a luz natural do sol, enviando sinais para o cérebro que ajudam a reajustar o relógio interno e aliviar os sintomas da depressão sazonal.
Alimentação
A alimentação não é apenas sobre saciar a fome; é um poderoso aliado na superação da depressão. Nutrientes específicos como:
Ômega-3, encontrado em peixes gordurosos como salmão e sardinha, ajudam a combater a inflamação no cérebro, um fator associado à depressão.
Ácido fólico, presente em vegetais verdes como espinafre e brócolis, pode reduzir sintomas depressivos.
Vitaminas do complexo B, essenciais para a produção de neurotransmissores como a serotonina, podem ser encontradas em carne magra, legumes e grãos integrais.
Magnésio, presente em alimentos como abacate, banana e amêndoas, também é crucial para a regulação do humor.
Terapias corporais
Massagem e terapia corporal são práticas que utilizam o toque terapêutico para promover o bem-estar físico e mental, sendo ferramentas valiosas no combate à depressão.
Pet Terapia
A terapia assistida por animais, também chamada de pet terapia, é um tipo de tratamento no qual pessoas com depressão interagem com animais treinados, como cães, gatos e cavalos, para se sentirem melhor. Profissionais de saúde usam essa terapia para ajudar a reduzir os sentimentos de tristeza, diminuir a ansiedade, aumentar a motivação e melhorar a comunicação e as habilidades sociais.
Importância do Suporte na Depressão
O suporte social é um fator crucial no tratamento e na gestão da depressão. Estudos e especialistas em saúde mental apontam que ter uma rede de apoio pode fazer uma diferença significativa na recuperação e no bem-estar das pessoas que sofrem dessa condição.
1. Redução do Isolamento
A depressão muitas vezes leva ao isolamento social, o que pode agravar os sintomas. Ter amigos, familiares ou grupos de apoio oferece um espaço seguro para compartilhar sentimentos e experiências, o que pode aliviar a sensação de solidão e abandono.
2. Incentivo e Motivação
Pessoas que recebem apoio emocional e incentivo de suas redes sociais são mais propensas a buscar e aderir a tratamentos, como terapia e medicação. A motivação externa pode ser um fator decisivo para aqueles que estão desmotivados ou têm dificuldade em manter uma rotina de tratamento.
3. Estabilidade Emocional
A presença de um sistema de suporte estável pode fornecer conforto e segurança emocional. Saber que há alguém disponível para ouvir e oferecer ajuda pode reduzir a ansiedade e o estresse, que muitas vezes acompanham a depressão.
4. Apoio Prático
Além do suporte emocional, amigos e familiares podem oferecer ajuda prática, como acompanhar o paciente a consultas médicas, ajudar nas tarefas diárias e fornecer assistência em momentos de crise. Esse tipo de suporte pode aliviar a carga de quem está lutando com a depressão.
5. Aumento da Autoestima
Interações sociais positivas podem melhorar a autoestima e o autovalor. Sentir-se aceito e valorizado pelos outros ajuda a combater os sentimentos de inutilidade e culpa, que são comuns na depressão.
6. Redução do Estigma
Participar de grupos de apoio ou compartilhar experiências com outras pessoas que enfrentam desafios semelhantes pode reduzir o estigma associado à depressão. Isso cria um ambiente de compreensão e aceitação, o que é fundamental para a recuperação.
Portanto, se tem depressão, não fique sozinho (a). Ter pessoas ao seu redor, ajudam na sua recuperação.
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Referências:
American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5th ed.).
Cuijpers, P., et al. (2016). The effects of psychotherapy for adult depression are overestimated: A meta-analysis of study quality and effect size. Psychological Bulletin, 142(8), 738-763.
National Institute of Mental Health (NIMH). Depression.
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